terça-feira, 24 de julho de 2007

Convenção dos feridos por amor.




"~ Disposições gerais:

A) Em se considerando que está absolutamente
correto o ditado "Tudo
vale no amor e na guerra";

B)Em se considerando que na guerra
temos a Convenção de Genebra, adotada
em 22 de agosto de 1864, determinando
como os feridos em campo
de batalha devem ser tratados, ao passo
que nenhuma convenção foi promulgada
até hoje com relação aos feridos de
amor, que são em muito maior número;
~ fica decretado que:

Art. 1- Todos ,os amantes, de qualquer
sexo, ficam alertados que o amor,
além de ser uma bênção, é algo também
extremamente perigoso, imprevisível,
capaz de acarretar danos sérios. Conseqüentemente,
quem se propõe a amar
deve saber que está expondo seu corpo
e sua alma a vários tipos de ferimentos,
e não poderá culpar seu parceiro em
nenhum momento, já que o risco é o
mesmo para ambos.

Art. 2 - Uma vez sendo atingido por
uma flecha perdida do arco de Cupido,
deve em seguida solicitar ao arqueiro
que atire a mesma flecha na direção
contrária, de modo a não se submeter
ao ferimento conhecido como amor
não-correspondido. Caso Cupido recuse
tal gesto, a convenção ora sendo
promulgada exige do ferido que imediatamente
retire a flecha do seu coração
e a jogue no lixo. Para conseguir
tal feito, deve evitar telefonemas, mensagens
por internet, remessas de flores
que terminam sendo devolvidas ou todo
e qualquer meio de sedução, já que
os mesmos podem dar resultados a
curto prazo, mas sempre terminam dando
errado com o passar do tempo. A
convenção decreta que o ferido deve
imediatamente procurar a companhia
de outras pessoas, tentando controlar o
pensamento obsessivo "vale a pena
lutar por esta pessoa?".

Art. 3 - Caso o ferimento venha de
terceiros, ou seja, o ser amado interessou-
se por alguém que não estava no
roteiro previamente estabelecido, fica
expressamente proibida a vingança.
Neste caso, é permitido o uso de lágrimas
até que os olhos sequem, alguns
socos na parede ou no travesseiro,
conversas com amigos onde pode-se
insultar o antigo(a) companheiro(a) e
alegar sua completa falta de gosto, mas
sem difamar sua honra. A convenção
determina que seja também aplicada a
regra do Art. 2: procurar a companhia
de outras pessoas, preferivelmente em
lugares diferentes dos freqüentados pela
outra parte.

Art. 4 - Em ferimentos leves, aqui
classificados como pequenas traições,
paixões fulminantes que não duram
muito, desinteresse sexual passageiro,
deve-se aplicar com generosidade e
rapidez o medicamento chamado perdão.
Uma vez este medicamento aplicado,
não se deve voltar atrás uma só
vez, e o tema precisa estar completamente
esquecido, jamais sendo utilizado
como argumento em uma briga
ou em um momento de ódio.

Art. 5 - Em todos os ferimentos
definitivos, também chamados "rupturas",
o único medicamento capaz de
fazer efeito chama-se tempo. Não adianta
procurar consolo em cartomantes
(que sempre dizem que o amor perdido
irá voltar), livros românticos (cujo final
é sempre feliz), novelas de TVou coisas
do gênero. Deve-se sofrer com intensidade,
evitando-se por completo drogas,
calmantes, orações para santos.
Álcool só é tolerado em um máximo de
dois copos de vinho por dia.

~ Determinação final:

Os feridos por amor, ao contrário dos
feridos em conflitos armados, não são
vítimas nem algozes. Escolheram algo
que faz parte da vida, e assim devem
encarar a agonia e o êxtase de sua
escolha.

E os que jamais foram feridos
por amor não poderão nunca dizer:
"Vivi."Porque não viveram."
Coluna do Paulo Coelho, Revista O Globo Nº156




7 comentários:

Ana Paula disse...

Ah... Se fosse assim tão fácil... Pedir para a flecha ser enviada para o outro, arrancar a flecha, procurar amigos em caso de ruptura... Ai, ai, alguém aí tem o endereço do Cupido?

Beijos.

Unknown disse...

Não gosto de Paulo Coelho e nem das coisas que ele escreve. Só li o Alquimista.

Toda dor de amor é bem vinda. Nos acrescenta para que não sejamos repetitivos em erros. Toda dor passa e novas dores seguem. A solução é respirar fundo e encarar, pois logo a frente, por mais impossivel que seja, um novo horizonte abrirá, um novo amor surgirá e novas expectativas também. Burrice é sofre sempre.

Sarah Rubia Nunes disse...

Perdão meus queridos, postei o texto sem minha opinião.


É um sonho que exista tal convenção e que as dores de amor sejam facilmente resolvidas, flecha pra lá, flecha pra cá e pronto, e simplesmente voce amou.
E os ferimentos leves? é so perdoar que passa.

Bem que poderia ser facil assim né?


Outro dia uma amiga que nunca se apaixonou me perguntou como era a dor de amor, fui descrevendo a ela em termos que entendesse, ela assustada me disse "credo, não quero amar não" Mas também disse a ela que quando passa somos mais fortes e geralmente a que doi muito é a primeira que nos pega de surpresa, depois começamos a nos acostumar e levantamos cada vez mais rapido.

Não amar é um erro.

Não se deixar amar é outro pior ainda (eu sempre cometo esse).
Mas as determinações finais do texto são perfeitas.


Pedro, Eu sempre gostei muito de Paulo coelho mas ultimamente so um texto ou outro, não sei se ele mudou ou se fui eu.


Ahhhhh AP, eu queria ter um de estimação, será que pode?

Bjs

Anônimo disse...

Tô fora de cupidos
Eles só me aprontam. Affff
Paulo Coelho igualmente ao Pedro só li Alquimista por inteiro, aprendi a apreciar os grandes mestres do Budismo e bons autores de poesia. E como AP fala e logo entramos em crise - nada é tão fácil assim. Mas o importante é tentar.




PS: adorei o coment dos boizinhos em relação ao meu sobrenome. uauauauauuaa .... diga que originário que origina de Santa Ana - a avó de Jesus .... mas boa idéia que me destes .... procurar sobre o significado real, pois de Santa Ana passou para Sant´Anna, Sant´Ana, Santana ....... deve ser coisa lá do alto Xingu !!!!

bjs

Sarah Rubia Nunes disse...

Eles ouviram qualquer coisa "Santana" daqui a pouco ouvi "mas tem Beth Santana" é nome de pessoa, o Igor pulou logo "é um carro seu idiota" tive que rir e escrever, o Igor sabendo nome de carro foi demais.
Bjs

Logan Araujo disse...

Muito criativo, adorei o texto e o blog.

rafael disse...

Acompanho a Beth e o Pedro na opinião sobre Paulo Coelho. Com a exceção de que não consegui passar do primeiro capítulo de nenhum livro dele, rsrs.

Mas confesso que agora fui surpreendido e sem pudor digo que gostei do texto.

Eu até aprovaria essa convenção. Pena que como todas as outras ela também não seria respeitada!!

E obrigado pelo comentário no meu blog. Foi muito pertinente e estou pensando bastante a respeito.

bjus